sexta-feira, 27 de julho de 2007

Sangue, (muito) Suor e Mentiras – Novela Verdade

Cap. I – A Despedida

O gabiru-cor-de-calango-esfolado dá um abraço de despedida na Vivs e deixa cair o bilhetão do Itapemirim. Se abaixa pra pegar, o paletó abre e aparece a etiqueta escrito "GARBO".

Daí, desconcertado, ele diz: “potz, nem sei o q é isso. ropa alugada é uma merda. O pessoal esquece até passagem de ônibus"

E, displicentemente, amassa a passagem (q nem era leito) e joga no lixo. Marca bem pra ver onde caiu, e e beija de olho aberto pra ficar vigiando a lata de lixo...

Só q vivs não vai embora...não, não vai... é nesse momento que um gari se desvia dele, com nojo,e se aproxima da lata de lixo....

Ciro cor-de-calango-esfolado, portando uma mala que mais parece que foi amarrada no pára-choque de uma Kombi e arrastada pelo Brás, estremece com a cena. Desolado, vê sua passagem (q nem era leito) indo embora pra sempre. No bolso, só lhe resta um cartão telefônico vazio, e meio Trident (falso, de camelô) já grudando no papel

Então .. vem o pior..
ele começa a suar..

O desodorante AXE, comprado na barraca embaixo da estação da luz, vencido ano passado (carga roubada mesmo) não dá conta da sua missão. O maltratado artefato químico é incapaz de disfarçar o aroma de marmita azeda que começa a dominar o ambiente... é Ciro suando...

Mas aí, ele se conforta, pois lembra que se suas meias não tivessem catorze furos cada, o calor seria maior. Seu mocassim , quase sem sola (sola de pneu recém colocada – nem três anos) começa a descolar...

e ele tropeça no próprio pé.

Vivs continua abraçando,
e nem percebe o drama do rapaz, que, para ela, é quase um anglo-saxônico.

Mas então, ele percebe que sua cueca, já castigada pelo tempo(5 dias sem trocar) está ensopada pelo suor da bunda, graças à calça de lã fria adquirida na liquidação de verão da garbo, em 1998)

Quando o cheiro se torna mais intenso, vivs sugere q eles mudem de local, e olha na sola das suas sandálias, pra ver se pisou onde não devia.

O faxineiro carrega dentro do saco plástico seu bilhete, seu passaporte para a tranquilidade. O rapaz chora, vivis acha que é de emoção, mas na verdade, ali estavam investidos os últimos 50 reais duramente conquistados fazendo truques com forminha de empada e bolinha... Quanto cacete da polícia Ciro tomara nas últimas semanas... Levavam o seu dinheiro, e desciam a borracha na sua cabeça chata de inglês.

O quadro é desolador.

Ele treme de desespero. Seu pivô se solta e sua ponte móvel, feita num obscuro gueto do Brás, começa a dançar em sua boca, enquanto a língua de Vivs procura avidamente a sua. Nesse momento, exaurido de suas últimas forças, ele olha no fundo dos olhos de Vivs. Ele treme. O chão balança. Ele peida.

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